domingo, 17 de janeiro de 2010

O culto à burrice

Eu cheguei a pensar que era neurose minha, juro. Mas tenho ouvido tanta gente reclamar do mesmo que agora tenho certeza que estou certo. É vergonhoso ser inteligente!
Ultimamente há um culto à ignorância, à infâncias sofridas, à dificuldades em geral. Num esforço gigantesco de aumentar artificialmente a importância de algumas pessoas e justificar injustificáveis. É quase crime, no Brasil ao menos, ser inteligente, estudar e ser bem sucedido sem se ter crescido em uma comunidade pobre, em condições precárias e sem grandes perspectivas. Sinceramente, valorizo as pessoas que lutaram e conquistaram. Acho louvável o fato de alguém ter estudado e melhorado, mesmo que tudo apontasse para outro caminho. Não é esse o problema.
A questão é que o mundo "emburreceu"! Pessoas inteligentes são chatas. As pessoas não querem discutir política, ainda que a vida delas seja diretamente influenciada pelas decisões tomadas por vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, presidente, ministros... Algumas das pessoas que você conhece, que estudaram com você em algum período da sua vida, que trabalharam com você, não querem conversar sobre a necessidade de se diminuir o consumo de energia, plásticos, combustíveis. Mas estas mesmas pessoas acompanham e sabem tudo sobre o BBB, a novela, o time de futebol e essas coisas realmente mais "relevantes".
Como escreveu Marcelo Lapola (@marlapola) para uma coluna: "A inteligência e seus labirintos trazem angústia, desampara. O asno não. Esse é bem-vindo. A burrice alivia, porque faz com que o outro burro se console com a burrice alheia." Pare e pense como isso faz sentido. Observe como "humorísticos" como "Zorra Total" transbordam personagens burros. Obviamente não é porque os atores são imbecis, muito pelo contrário. É a burrice aliviadora. Faz o burro se sentir menos burro.
Já se perguntou por quê programas como o do Ratinho, Netinho, Marcia e similares, que expõem os conflitos familiares, traições, promiscuidade e correlatos tem bons índices de audiência? Você poderia responder que é porque mostra a realidade de boa parte da população e eles se identificam com isso. Tudo bem, pode ser, mas na verdade é porque é mais fácil se conformar com a "realidade" do que lutar e mudar. É mais fácil aceitar que aquela é sua vida. E é ai que mora o grande problema: o nível é demasiadamente baixado. Aí basta o cidadão compor uma "música" que faça "sucesso" para ser exemplo a ser seguido.
Certa vez assisti um pequeno trecho de uma entrevista da Tati Quebra Barraco (???) no programa da Luciana Gimenez (???) onde a "cantora" dizia que as pessoas tem muita inveja dela. Francamente, inveja? Eu sinto pena. Vejam que o simples fato da moça ter ganho uns trocados e aparecido na TV faz com que ela se torne um exemplo a ser seguido. O mesmo vale para o Lula, Tiririca, Lacraia, a menina do BBB que cantou "Iarnuou" e tantos outros. Jogadores de futebol, não posso me esquecer.
Mas e o casal Obama? Chegaram onde chegaram porque são negros? Porque passaram por dificuldades quando eram jovens? Ou porque não aceitaram o "destino", estudaram (ambos se graduaram em mais de um curso superior) e se destacaram profissional e pessoalmente?
Entendeu a diferença? Não? Você está lendo o Blog errado. Desculpa.

Um comentário:

  1. Bunny, duas observações:
    1- BBB faz sucesso JUSTAMENTE porque tira a cabeça da gente por uma hora diária da merda que é nossa própria vida. E, sim, é muito mais gostoso tomar uma cerveja e concentrar as energias em analisar um universinho besta dentro de uma casa besta cheia de gente besta do que acabar o dia pensando no que realmente importa. Pode não ser certo - aliás, claro que não é certo -, mas quem se importa com o certo quando existe o gostoso? Ré confessa, passei muita noite descansando a cabeça do resto enquanto falava mal da homofobia do Dourado e afins. Mas tb entendi que é necessário estar por dentro deste e outro universos babacas pra poder analisar nossa própria babaquice - e dos que nos governam, por consequência (gente, odeio a abolição da trema!).
    2- Tati Quebra-Barraco: entendo o contexto, mas leia logo mais meu post no blog do Ismael, que vai entrar antes da última aula Groovy. A moça tem seus méritos - principalmente quando lida dentro da realidade da cultura artística pop. Mas isso é conversa pra um próximo churrasco, que meu marido precisa parar de prometer e fazer acontecer! Quanto ao casal Obama e ao resto da reflexão, concordo em gênero e número - e tô cansada de ouvir que passar fome e ser semi-analfabeto é um puta mérito, enquanto tanta gente que passou fome e não aprendeu a escrever na porra da infância mandou as "condições desfavoráveis" pra puta que pariu e fez a vida acontecer.

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